16 setembro 2009

o melhor ainda é não saber

Nos últimos dias chegaram a este blogue via pesquisa no Google várias pessoas que buscam a resposta para esta pergunta: "como deixar de gostar de alguém". A culpa é deste post que escrevi. Entristece-me que vão sem resposta, mas não posso ajudar. É que não sei mesmo, e eu até tenho a mania que sei umas coisas.

Mas o amor, e o Sitemeter disso me dá conta mais uma vez, é a mais velha preocupação do mundo. Transversal a todas as idades, opções sexuais, estatuto económico, situação geográfica. Alguém duvida?
Falo, obviamente, do amor carnal, do amor romântico, do amor entre dois seres com a potencialidade de troca de fluidos, porque só esse é comum. O amor no sentido genérico, extensivo aos laços familiares aos amigos, aos pobres e aos fracos, o amor genuíno e puro, sabemos, não interessa a todos... Mas o amor romântico? Até as bestas e os psicopatas o sentem, porque é hormonal, visceral. Dir-me-ão que isso já pode ser uma utilização abusiva da palavra amor. É verdade, mas quem o sente, seja lá quem for, não sabe isso nem quer saber.

Havia um bêbedo numa terrinha que conheço perdida no interior do distrito de Coimbra que andava sempre a dizer: "O importante é o amor". E ele tinha razão.
Venham as catástrofes naturais, as guerras, a crise económica, o desemprego, as eleições, a carreira, o carro topo de gama, a barraca da Cova da Moura, o duplex... O importante é... vamos fazer coro: o amor.
Estou convencida que mesmo nas mais duras provas a que a condição humana está sujeita, desde a cama do hospital, ao acampamento dos refugiados, há-de ser o amor que tece as conversas e as preocupações.

Imagino assim, por exemplo, uma conversa entre dois homens num porão de um barco cheio de imigrantes famintos de uma vida melhor, sujos, com frio, com fome... Um diz: "sabes há uma mulher...". Pronto. As conversas começam sempre com isto "há uma mulher" ou "há um homem" e as inevitáveis: não sei se gosta de mim, achas que gosta?, o que é que eu faço?, porque é que ela não gosta de mim, não percebo aquela mulher, não percebo aquele homem.

Ninguém percebe o amor. Essa é a verdade.

Uma vez escrevi esta dedicatória a uma pessoa que me desasossegou: "O melhor ainda é não saber. Nada." Escrevi-a num livro que se chama Um amor feliz, do David Mourão Ferreira. Um dos meus livros.
Ninguém sabe como deixar de gostar de alguém, mas toda a gente sabe como é gostar. Isso devia bastar. O resto vem por si. O melhor ainda é não saber. Nada.

3 comentários:

J. Maldonado disse...

Excelente post, como, aliás, são todos deste blog.
O tal bêbado com certeza que deve ter lido Camus... :))
Agora fizeste-me recordar um interessante livro de Erich Fromm, A Arte de Amar, que li há muitos anos... Aí poderás ter uma noção dos diversos tipos de amor que existem. ;)

Leonor disse...

Ninguém o percebe mas o amor romântico de que falas, como diz o anúncio, dá-nos asas ou afunda-nos e no entanto voltamos a ele, sempre, viciadinhos que aprendemos a ser.
O livro do David Mourão Ferreira de que falas é maravilhoso, este post é uma delicia e o blog é uma bela descoberta que vem na fila de links de outros blogs amigos.

Até breve

Ca Delicious disse...

(: